A agressão aconteceu na madrugada de domingo, 13 de novembro, durante uma tradicional festa na cidade de Virginópolis.
De acordo com o Boletim de Ocorrências da Polícia Militar, a funcionária pública Rejane Aparecida de Miranda, de 34 anos, teria ameaçado o ex-companheiro e sua atual namorada por não concordar com o término do relacionamento.
Ainda segundo as informações da Polícia Militar, após ameaçar, Rejane teria perseguido o casal momento em que foi abordada por militares, que precisaram fazer uso moderado da força para retirar de suas mãos um material cortante que não queria entregar.
A ocorrência relata também que a funcionária pública se negou a informar a própria versão dos fatos, que apresentava escoriações no rosto e que não saberia identificar o agressor, afirmando apenas se tratar de um homem branco, camisa listrada, de aproximadamente 1,75m de altura e que a agressão teria ocorrido antes da abordagem dos militares. A funcionária pública foi encaminhada ao Hospital de Virginópolis para atendimento.
Mulher afirma ter sido agredida por PM dentro da viatura policial
Três dias depois, na quarta-feira, 16, Rejane Aparecida de Miranda, mãe de dois filhos, recepcionista concursada da Câmara Municipal e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Guanhães procurou a reportagem da Folha para denunciar a violência sofrida.
Se à Polícia Militar Rejane não quis informar a sua versão dos fatos, conforme relata o Boletim de Ocorrências nº MO859-2011-0002038, à reportagem ela contou com detalhes o ocorrido na madrugada do dia 13, em Virginópolis.
Segundo a funcionária pública, num certo momento da festa avistou o ex-companheiro e a atual namorada junto a um grupo de amigos. Após falar com o ex-companheiro, com quem foi reclamar da companheira que fez um gesto obsceno para ela, foi surpreendida por um amigo do casal que a segurou pelo braço tentando puxá-la e provocando uma grande discussão.
A partir daí, três mulheres do mesmo grupo passaram a agredi-la com puxões de cabelo, tapas e chutes sem nenhuma intervenção do ex ou de qualquer outra pessoa.
Revoltada com o tratamento humilhante e violento recebido de um policial militar, Rejane contou à reportagem que a PM chegou ao local no momento da confusão, mas que apenas ela teria sido abordada e posteriormente conduzida ao quartel.
“Os policiais chegaram e já foram logo me abordando. Somente eu fui abordada e conduzida, mais ninguém. Os policiais me pegaram e me jogaram no chão assentada. Sem que eu pudesse ver, mais uma vez puxaram o meu cabelo, me desequilibrei e sem querer com o movimento de uma das minhas pernas acabei derrubando um dos policiais. Logo em seguida, o Cabo Silvério me jogou de bruços no chão, ajoelhou sobre minhas costas e me algemou. Depois me levantou de forma bruta, meu nariz estava sangrando, e de qualquer jeito me jogou na viatura sem que eu pudesse sequer me mexer direito. Em seguida, ele entrou e se assentou ao meu lado e então reclamei que estava mal assentada e que naquela posição as algemas estavam me machucando muito.
”Rejane relembra o ocorrido e chora; depois se recompõe, se dirige novamente à reportagem e continua: “A resposta dele à minha reclamação foi a seguinte: cala a boca vagabunda!!! As vagabundas saem de Guanhães para caçarem confusão aqui em Virginópolis. Depois, me deu quatro socos no rosto; um na testa, dois nas proximidades do olho direito e um na boca. Com medo de outra investida do policial, me calei e fui conduzida a uma sala de reunião do quartel da PM, onde fiquei algemada até ser conduzida ao hospital de Virginópolis para atendimento médico onde uma médica me anestesiou e costurou o meu lábio.”
Agredida e humilhada, Rejane chega à Delegacia de Polícia de Guanhães e a pedido do delegado de plantão é encaminhada ao Hospital Regional, para realização de um laudo médico. O documento contraria o Boletim de Ocorrências que diz não haver lesões aparentes além de não informar as condições em que a agredida foi entregue à Depol.
Procurado para falar sobre as denúncias da funcionária pública, o Cabo PM Sidney Francisco Silvério, do destacamento de Gonzaga, disse não poder dar informações sobre esse caso e indicou o Tenente Januário, comandante do Pelotão de Virginópolis para falar sobre o assunto.
Por telefone, o Tenente Januário disse não ter conhecimento do caso e resumiu: “não chegou nada a mim, nenhuma reclamação; pelo menos até o momento.”
A presidente do Conselho da Mulher procurou o comandante da PM na região e formalizou denúncia junto a 25ª Cia PM Ind, onde foi ouvida por um oficial por quase duas horas. “Fui muito bem recebida pelo comando e por todos da Polícia Militar aqui em Guanhães. Fui respeitada, tratada como ser humano, como mulher, como cidadã, enfim, como merece ser tratada toda pessoa de bem. Obrigada a todos, especialmente aos que me ouviram com atenção e cuidado”, agradeceu.
O Comandante da Cia PM, Major Edgard, baixou portaria para instauração de Inquérito Policial Militar que vai apurar o caso e resumiu: “Se o inquérito apontar a responsabilidade do policial, ele será punido rigorosamente. Não podemos permitir abusos e condutas dessa natureza em meio a nossa Cia, em nossa corporação.”
Rejane informou que vai enviar a denúncia para os órgãos de defesa da mulher em outras instâncias, “quero justiça, não posso me calar”, concluiu.
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