O paracetamol, um dos analgésicos e antipiréticos mais usados e acessíveis no Brasil, provocou a intoxicação de 815 pessoas ao longo de 2023, uma média superior a dois casos por dia. Os dados referem-se a atendimentos remotos e presenciais no Hospital Pronto-Socorro João XXIII. O uso em excesso do fármaco pode causar problemas renais e hepáticos, além de levar à morte, alertam especialistas. Automedicação e erros de administração são apontados como as principais causas desses excessos.
A acessibilidade ao medicamento é um dos fatores de risco, analisa o médico Adebal Andrade Filho. Ele é coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (Ciatox-MG), que lida diretamente com os casos de intoxicação no João XXIII. Isso porque a medicação pode ser comprada sem receita médica em farmácias e até em supermercados. Além disso, a concentração dos medicamentos preocupa.
“Estamos falando de comprimidos de até um grama. Em um adulto, valores acima de 4 gramas por dia podem resultar em intoxicações”, alerta. Além disso, as fórmulas pediátricas saborizadas, atrativas para as crianças, aumentam o risco de ingestão acidental, segundo o especialista. “São doses com sabores de chocolate, uva. Isso acaba atraindo, porque é docinho. E os pais podem não ter consciência dos riscos da medicação”, afirma.
O crescimento dos casos de intoxicação ocorreu a partir da década de 90, quando o paracetamol começou a ser mais usado no Brasil, explica Filho. "Cerca de 100 casos por ano no início da década de 90 evoluíram para números muito mais altos atualmente, superiores a 700 casos por ano", explica. Os dados ilustram a fala do professor: em 2022, foram 787 casos, frente aos 815 registrados em 2023.
Danos hepáticos graves, necessidade de transplante de fígado e morte. Essas são consequências das superdosagens de paracetamol, alerta uma pesquisa pioneira da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conduzida pela médica emergencista Thamyres Carvalho Rufato, que decidiu pesquisar sobre o assunto após observar alta incidência de intoxicações pela medicação durante seu estágio no João XXIII.
O estudo abrangeu 1.223 atendimentos no Ciatox-MG relacionados ao uso do paracetamol. No entanto, apenas 55 pacientes foram incluídos na análise final. Isso se deveu aos critérios de exclusão, que foram atendimentos não presenciais e ingestão inferior a 10 gramas de paracetamol. Segundo a pesquisadora, os dados alertam para a subnotificação e a dificuldade de se obter informações precisas sobre o problema.
Como procurar ajuda?
Ao ingerir uma dose alta de qualquer medicação, pacientes podem entrar em contato com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas Gerais (Ciatox-MG). O serviço está disponível 24 horas por dia para orientações sobre intoxicações, por meio do telefone (31) 3224-4000.
Sempre consulte um médico antes de utilizar qualquer medicamento!
Por O Tempo/Edição Folha
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