Enfrentar a esclerose múltipla é combater um inimigo muito próximo: o próprio organismo. Tão intrínseco que fica impossível entrar na luta sem se ferir e provocar prejuízos a si mesmo.
A forma é metafórica, mas não deixa de ser uma representação do que enfrentam os pacientes que convivem com uma doença autoimune, que ataca a mielina (proteína que reveste as fibras nervosas e permite a condução dos impulsos nervosos), provocando inflamações e, com o tempo, a degeneração dos tecidos do sistema nervoso.
O resultado pode ser a perda progressiva dos movimentos do corpo, do equilíbrio, o comprometimento da visão, da fala, da memória e de tantas outras atividades que garantem a autonomia do corpo.
A enfermidade ainda não tem cura. Há o controle da doença somado aos mistérios da genética que fazem com que uns respondam melhor ao tratamento e possam conviver anos sem o mal se manifestar.
“A doença nasce da relação entre o sistema nervoso e o sistema imune. Ambos ainda são grandes desafios para a ciência. É necessário saber em que momento o sistema imune começa a agredir a mielina como se ela fosse estranha, esclarece coordenadora do Departamento Científico de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia. a médica Elizabeth Regina Comini Frota.
As medicações disponíveis têm objetivo de evitar as crises que provocam lesões nas células nervosas. Sequelas muitas vezes irreversíveis e, por tantas outras, limitantes.
São surtos motores, como paralisias; ou sensitivos, que provocam dormências, por exemplo. Para amenizar os riscos de tê-los, só mesmo recorrendo a injeções aplicadas diariamente, em dias alternados ou ainda uma vez por semana. Elas oferecem uma proteção de 25% a 30% contra as crises e podem provocar uma série de efeitos colaterais, como dores de cabeça e baixa do sistema imunológico, por exemplo.
Por isso, as pequenas conquistas dos pacientes são muito importantes. Graças a uma luta conjunta por direito a mais qualidade de vida, eles se mobilizam por alguns ganhos enquanto a ciência não pode oferecer nenhum conforto definitivo.
Uma das vitórias foi a inclusão de medicação oral, o fingolimode, na lista de remédios disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde nas farmácias de alto custo de todo o país. A previsão é que o medicamento comece a ser distribuído ainda no primeiro semestre deste ano.
A conquista é enorme para um caminho com tão poucas opções. De resto, resta apostar nos estudos futuros, como a de células-tronco com habilidade para originar novas células que fabricam a mielina.
“As perspectivas futuras são muito animadoras. As pesquisas apontam vários fatores que desencadeiam a doença. Em relação ao tratamento, a melhor perspectiva é o foco na molécula que impede a recuperação da mielina. À medida que se desenvolvem bloqueadores dessa molécula, é possível que tenhamos, nos próximos anos, um medicamento capaz de controlar a degeneração. Outra perspectiva importante é em relação à influência dos hormônios femininos na capacidade de regeneração”, esclarece a médica Elizabeth Frota.
Por Estado de Minas
Foto: Internet
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