Por causa da greve dos caminhoneiros, empresas liberam funcionários. Justiça é acionada para dar fim aos bloqueios
Uma onda de manifestações, greves e demissões de trabalhadores tomou conta do país. Diversas rodovias foram bloqueadas ontem por caminhoneiros que protestam contra alta de combustíveis, e servidores públicos e empregados terceirizados cruzaram os braços em busca de reajustes salariais.
Para piorar a situação, trabalhadores da indústria automotiva foram dispensados ou obrigados a tirar férias e empresas envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras continuam a fechar vagas porque alegam que não recebem recursos para honrar os compromissos.
O governo acendeu o sinal de alerta com os problemas espalhados por todas as regiões do Brasil. Para analistas, a tendência é que a situação se agrave, já que o país está mergulhado em uma recessão. Eles avaliam que o baixo crescimento da economia e a inflação em alta devem acelerar o processo de demissões, que resultará no aumento do desemprego. E as pressões contra as medidas tomadas pelo Executivo para ajustar as contas públicas também são criticadas. Em sete estados do país, caminhoneiros cruzaram os braços, mas a Advocacia-Geral da União (AGU) ingressou com ações na Justiça Federal com o intuito de suspender os bloqueios nas estradas.
Os trabalhadores reclamam que o preço dos combustíveis aumentou e o dos fretes permanece inalterado. Os motoristas profissionais ainda reivindicam queda no valor dos pedágios, melhores condições nas rodovias do país e tributação diferenciada no transporte de cargas.
Com o tráfego de caminhões interrompidos, diversas empresas foram afetadas. Na fábrica da Fiat, em Betim, os trabalhadores do segundo e terceiro turno foram liberados devido às perspectivas de falta de peças para a montagem de carros. Com o fechamento da BR-381, as transportadoras estavam usando rotas alternativas para levar as matérias-primas para a empresa. Os manifestantes, no entanto, bloquearam todos os acessos, impedindo a entrada de caminhões na unidade. Para hoje, a empresa já anunciou a dispensa de empregados do primeiro e do segundo turnos. A paralisação no terceiro turno de trabalho não estava definida até a noite de ontem.
Em Minas, os manifestantes interromperam o trânsito de pelo menos quatro rodovias do estado – as BRs 381, 262 e 040, além da MG-050. Na BR-381, a manifestação iniciada no domingo prosseguiu ontem em outros pontos da rodovia. Caminhoneiros impediram o trânsito em Igarapé, Oliveira, Perdões e Vale do Aço. Somados, os congestionamentos da Fernão Dias totalizaram quase 40 quilômetros. Na BR-262, em Juatuba, a paralisação interrompeu o fluxo no km 368, formando uma fila de mais de quatro quilômetros. No início da noite, o movimento chegou à BR-040, em pontos no município de Nova Lima e de Contagem. No Norte de Minas, houve o início de uma paralisação na BR-365, ligação com o Triângulo Mineiro. No entanto, sem adesão maciça, o movimento se desfez.
Segundo o presidente do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros, José Natan, a paralisação reflete o “estado de desespero” da categoria. Ele alega que os seguidos reajustes de combustível não foram incorporados ao valor do frete integralmente por uma parcela dos clientes. Isso tornou insustentável o custeio de uma parcela das transportadoras e de caminhoneiros autônomos. “O frete já estava pela hora da morte. Agora tem empresa que não conseguiu quitar o IPVA.”.
Manifestações a rodo
Veja as categorias que estão de braços cruzados, os serviços suspensos e as demissões
Sudeste
Caminhoneiros de Minas Gerais:
Trabalhadores fecharam parte da rodovia Fernão Dias, principal ligação entre Minas e São Paulo, protestando contra o aumento do preço dos combustíveis
Garis de Vila Velha (ES):
Trabalhadores protestam contra a demissão de 200 funcionários. Com as dispensas, apenas 600 pessoas fazem o trabalho no município de 450 mil habitantes
Metalúrgicos de Taubaté (SP):
A Volkswagen deu férias coletivas de 20 dias para 250 empregados. O terceiro turno de trabalho na fábrica foi suspenso
Metalúrgicos de São José dos Campos (SP):
Funcionários da General Motors (GM) entraram em greve após a companhia dispensar 794 trabalhadores. Uma reunião entre as partes está marcada para às 15h30 de hoje, no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas (SP)
Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP):
A Ford afastou 420 empregados, por tempo indeterminado. A empresa afirma que a medida visa adequar a produção à realidade de mercado, já que a demanda por veículos e caminhões despencou em 2015
Metalúrgicos de Resende (RJ):
A MAN, fabricante de caminhões e ônibus da Volkswagen, deu férias coletivas de 10 dias para todos os empregados
Sul
Caminhoneiros do Paraná:
No estado, 20 rodovias estão fechadas entre as cidades de Cascavel, Curitiba e Guarapuava. Além de criticar os preços dos combustíveis, a categoria pede fixação do frete por quilômetro rodado e carência de seis meses a um ano para os financiamento de veículos de carga
Caminhoneiros de Santa Catarina:
Cinco rodovias no estado estão bloqueadas. Os manifestantes pedem a queda no preço do diesel e melhores condições nas estradas da região. Por causa dos bloqueios, 100% da coleta de leite pode ser interrompida
Caminhoneiros do Rio Grande do Sul:
Seis pontos de rodovias federais e outros sete de rodovias estaduais foram bloqueados. Alguns caminhoneiros colocaram fogo em pneus nos acostamentos da estradas. Eles criticam os valores de combustíveis e pedágios e a tributação no transporte de cargas
Motoristas e cobradores de Blumenau (SC):
Trabalhadores do setor de transporte coletivo da cidade paralisaram o trabalho para que medidas de segurança sejam implantadas pelo município
Professores municipais de Foz do Iguaçu (PR):
Os educadores cruzaram os braços para que a prefeitura implante o plano de carreira e dê melhores condições de trabalho. Pelo menos 1 mil alunos estão sem aula na cidade
Servidores do Departamento de Trânsito do Paraná:
Centenas de funcionários param contra o pacote de medidas de austeridade que está em discussão no legislativo paranaense
Metalúrgicos de Rio Grande (RS):
Mais de 1,8 mil trabalhadores foram dispensados de um estaleiro que construía plataformas para a Petrobras desde que quatro empresas foram citadas na Operação Lava-Jato
Norte
Policiais civis de Tocantins:
Os servidores decidiram cruzar os braços a partir de amanhã, por tempo indeterminado. Eles cobram reajuste de salário
Servidores do Procuradoria da República no Acre:
O funcionalismo reclama que não tem ganho real salarial há nove anos
Trabalhadores terceirizados da Petrobras em Manaus (AM):
Mais de 800 prestadores de serviço à petroleira foram dispensados desde que a operação Lava-Jato foi deflagrada pela Polícia Federal
Nordeste
Servidores do Tribunal de Justiça do Piauí:
Alegam que não receberam o reajuste de 10% que havia sido acordado em junho do ano passado com a presidência da Corte. Dos mais de 2 mil servidores, 90% aderiram à greve
Servidores da Prefeitura de Maceió (AL):
Trabalhadores estão de braços cruzados e cobram reajuste de 14%
Metalúrgicos de Maragogipe (BA):
Um estaleiro que construía embarcações para a Petrobras dispensou mais de 2 mil trabalhadores nos últimos quatro meses. As três empresas donas do consórcio foram citadas na Operação Lava-Jato e estão com problemas financeiros
Metalúrgicos da Refinaria Abreu e Lima (PE):
Com as denúncias de corrupção e superfaturamento de obras no complexo petroquímico, 4,6 mil trabalhadores foram demitidos
Metalúrgicos do Comperj de Ibatoraí (RJ):
Mais de 4 mil trabalhadores perderam os emprego desde que a Polícia Federal deflagrou
a Operação Lava-Jato
Centro-Oeste
Caminhoneiros do Mato Grosso:
Os motoristas bloquearam trechos das BRs 163 e 364. Eles tentam impedir, há quase uma semana, que os veículos de cargas façam o escoamento da produção agrícola
Caminhoneiros do Mato Grosso do Sul:
Dois trechos da BR-163, em Dourados e em Fátima do Sul, estão bloqueados. As manifestação podem durar até que as principais reivindicações da categoria sejam atendidas
Caminhoneiros em Goiás:
Um protesto interdita a BR-364, no perímetro urbano de Jataí. A rodovia é uma das principais rotas de escoamento de grãos, e liga Goiás ao Mato Grosso
Professores da rede pública do Distrito Federal:
Os educadores querem que os salários sejam pagos integralmente e não parcelado
Por Estado de Minas
Foto: Estado de Minas
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