Os oito homens que foram fuzilados na Indonésia na madrugada desta quarta-feira (29) – tarde de terça-feira (28) no Brasil – entoaram cantos religiosos enquanto andavam para encarar o esquadrão que os mataria, disse uma testemunha, que afirmou que eles morreram com “força e dignidade”.
Os condenados – dois australianos, quatro nigerianos, um indonésio e o brasileiro Rodrigo Gularte – saíram se suas celas na prisão na ilha de Nusakambangan e andaram até uma clareira feita na floresta, onde as execuções foram cumpridas.
Mas ao invés de baixar a cabeça em sinal de derrota e resignação, todos se negaram a colocar uma venda nos olhos e entoaram cânticos religiosos, entre eles o brasileiro até que o pelotão começou a disparar.
Christie Buckingham, a pastora que acompanhou um dos australianos em seus últimos momentos, explicou ao marido que os condenados se comportaram "com força e dignidade até o fim".
Já a pastora Karina disse que as vozes dos oito condenados eram ouvidas juntas. “Eles estavam todos louvando seu Deus. Foi tocante. Foi a primeira vez que testemunhei alguém tão bem por ir encontrar seu Deus”, afirmou. “Eles se uniram. Cantaram juntos, como em um coro. Os não-cristãos, acredito, também cantaram de seu coração”.
Na cidade portuária de Cilacap, de onde se chega à ilha de Nusakambangan, um pequeno grupo de pessoas havia se reunido com velas pouco antes da execução, também cantando e cobrindo os prantos dos que pensavam no que estava prestes a acontecer na selva.
Segundo o jornal “Sydney Morning Herald”, o padre Charles Burrows, que deu conforto ao brasileiro Gularte, afirmou que foi especialmente difícil para ele, que foi diagnosticado com esquizofrenia e segundo sua família não sabia que iria ser executado.
De acordo com o padre, Gularte, falava com animais e tinha medo de ondas eletromagnéticas e satélites que poderiam vigiá-lo pelo céu. Eu seu estado conturbado, ele acreditava que a Indonésia tinha abolido a pena capital e estabelecido um acordo de extradição de prisioneiros com o Brasil, o que significaria que ele poderia ir para casa no próximo ano.
Pouco depois, na ilha, os oito condenados à morte foram atados a um poste e executados por um pelotão formado por 12 homens. Ao amanhecer seus corpos foram devolvidos a Cilacap dentro de caixões.
Execução de brasileiro na Indonésia constitui fato grave, avalia Planalto
A execução nesta terça-feira, 28, do brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42 anos, condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas, "constitui fato grave no âmbito das relações entre os dois países", comunicou nesta terça-feira a Presidência da República, em nota.
O governo brasileiro afirma ter recebido com "profunda consternação" a notícia da execução.
De acordo com a Presidência, o episódio "fortalece a disposição brasileira de levar adiante, nos organismos internacionais de direitos humanos, os esforços pela abolição da pena capital".
"Em carta enviada ao seu homólogo indonésio, a presidente Dilma Rousseff havia reiterado seu apelo para que a pena capital fosse comutada, tendo em vista o quadro psiquiátrico do brasileiro, agravado pelo sofrimento que sua situação lhe provocava nos últimos anos.
Lamentavelmente, as autoridades indonésias não foram sensíveis a esse apelo de caráter essencialmente humanitário", ressaltou a Presidência da República.
As relações entre Brasil e Indonésia estão estremecidas desde a execução do brasileiro Marco Archer Moreira, fuzilado em 18 de janeiro, condenado por tentar entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta, em 2004. Em represália à morte de Archer, a presidente Dilma se recusou a receber as credenciais do novo embaixador indonésio no Brasil, Toto Riyanto, em 20 de fevereiro, e ele precisou retornar à Jacarta.
Por Folha com Agências
Fotos G1
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