Um terço dos homens no país não cuida da própria saúde, revela o governo federal. Buscando reverter esse quadro, o Ministério da Saúde anunciou ontem uma campanha para tentar laçar brasileiros no momento em que eles acompanham a mulher no pré-natal.
É nesse período que 80% deles estão presentes nas unidades de saúde. A ideia é conscientizá-los sobre a importância dos exames preventivos, mas a iniciativa pode naufragar porque não há previsão de verba extra para ampliar as equipes de atendimento.
Marcelo Roberto Matias, de 37 anos, é um dos homens que deixou a própria saúde em segundo plano. Durante a gravidez da mulher, ele acompanhou Eudielem Moura Lima, de 30, nas consultas ao obstetra, e até fez curso para aprender os cuidados com a primeira filha. Mas admite que ele mesmo foge do consultório. “Não tenho costume de ir ao médico por minha conta”.
Para especialistas, muitos homens continuarão na mesma situação que Marcelo. Sem recursos para ampliar e capacitar as equipes dos postos de saúde, a proposta é utilizar a estrutura já existente de atenção básica.
Mas para Augusto Guerra, coordenador do Centro de Técnica em Saúde da UFMG, a falta de especialização dos profissionais que prestam esse atendimento pode atrasar a identificação de problemas de saúde “ocultos” no homem. Entre eles está o alcoolismo, citado na pesquisa do Ministério da Saúde de grande incidência no público masculino.
Além disso, a atual estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) precisaria ser revista. “O serviço não é nacional, é regionalizado. Sem um plano de carreira para todo o país, não é possível remanejar profissionais. Isso é um dos motivos, por exemplo, da falta de médicos no interior”, avalia Guerra.
Ele ainda explica que, atualmente, a saúde pública conseguiria atender, de maneira preventiva, apenas exames relacionados a doenças do aparelho cardiovascular, como hipertensão, e a diabetes.
Outro entrave é que o aumento da demanda pode gerar procura por especialidades, como urologia. Para Jorge Lyra, integrante do Grupo de Trabalho Gênero e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), quando o plano de atenção da saúde do homem foi discutido, em 2008, a ideia era fazer uma proposta para sensibilizar o homem, sem custos.
“Ao contrário do que o ministro da saúde falou, as mulheres, por uma questão sócio-cultural trabalham mais que os homens e são pilares. Elas contribuem ajudando os parceiros a fazer os exames”, complementa Lyra.
Preparado
Por sua vez, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, garantiu que o SUS está preparado para esse atendimento especializado. “Algumas unidades de saúde já atendem em horário ampliado para atrair os homens”, informou Francisco Norberto, coordenador da Saúde do Homem da pasta.
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