Até o momento o município e os estabelecimentos de Guanhães não receberam nenhuma orientação oficial sobre o caso, mas consumidores guanhanenses seguem receosos de consumir a bebida
O uso de uma substância chamada dietilenoglicol (DEG) no processo de fabricação de cerveja vem sendo investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais. Um laudo confirmou a presença da substância em duas garrafas de cerveja encontradas em casas de pacientes internados com sintomas de uma síndrome desconhecida.
A polícia informou que o laudo ainda é preliminar e que não há como confirmar a responsabilidade da empresa fabricante no caso. Ele foi realizado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil.
Sete pessoas estão internadas com sintomas de intoxicação em hospitais de Belo Horizonte e de Nova Lima, região metropolitana. Uma morreu. O bairro Buritis é o local que conecta todos os pacientes, internados em diferentes hospitais. Todos moram, passaram por ele ou vivem no entorno do bairro.
Todos os pacientes são homens, com idade entre 23 e 76 anos. O primeiro caso foi registrado em 19 de dezembro e um dos pacientes, de 55 anos, morreu na última terça-feira (7) em Juiz de Fora, onde estava internado.
A empresa envolvida no caso de Belo Horizonte, a Backer, disse em nota que a substância encontrada nas garrafas investigadas não faz parte do seu processo de produção. Os lotes envolvidos serão recolhidos do mercado, por precaução. Na quarta-feira (8), a empresa negou que a bebida possa ter relação com os sintomas apresentados pelos pacientes internados.
LOTES CONTAMINADOS
A cervejaria Backer produziu 66 mil garrafas da cerveja Belorizontina dos lotes L1 1348 e L2 1348, apontados no laudo da Polícia Civil como aqueles onde foi encontrada a substância dietilenoglicol. Cada lote tem 33 mil garrafas. Não há confirmação de quantas unidades desses lotes estão contaminadas. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da cervejaria.
Ainda de acordo com a assessoria, um mapeamento está sendo feito para que seja verificado em quais estabelecimentos e bairros da capital a cerveja foi comercializada.
Entretanto, é importante deixar claro que não é possível afirmar que todas as cervejas produzidas estão contaminadas com a substância. Em nota enviada à imprensa, a cervejaria disse que a "substância não faz parte do processo de produção da cerveja Belorizontina".
GUANHÃES
Na manhã desta sexta (10) a reportagem da Folha entrou em contato com a Vigilância Epidemiológica de Guanhães que informou não ter recebido nenhuma orientação oficial sobre o caso até o momento.
Outros três estabelecimentos da cidade que comercializam os produtos da Cervejaria Backer também foram contatados pela reportagem e disseram que até o momento não houve nenhuma determinação de retirada ou suspensão da venda do produto, que continua sendo comercializado normalmente.
RECEIO DOS CONSUMIDORES
Diante do caso muitos consumidores de Guanhães seguem receosos de consumir a cerveja Belorizontina. Apesar de adorar a bebida e ter um pequeno estoque em casa, a moradora Ana Luíza Nardy contou à reportagem da Folha que pretende jogar todas fora. “Acho a cerveja muito saborosa, mas diante deste caso estou com muito receio de consumir não só a cerveja Belorizontina, mas qualquer cerveja da Backer, até que tudo seja esclarecido”.
O guanhanense Italo Araújo e sua esposa Janniele também eram consumidores da bebida, mas disseram que deixarão de fazer uso do produto até o fim das investigações: “Gostamos muito da Belorizontina, ela tem um bom paladar e um preço acessível, mas deixaremos de consumi-la até que tenhamos certeza do que veio a acontecer”, afirmou o casal.
O QUE É O DIETILENOGLICOL?
O dietilenoglicol (DEG) é uma substância de cor clara, viscosa, não tem cheiro e tem um gosto adocicado. Ela é anticongelante e de uso bastante comum na indústria. A ingestão pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos.
A intoxicação por DEG pode ocorrer quando ele é usado de forma inapropriada em preparações químicas, substituindo outros produtos não tóxicos para o ser humano. Desde 1937, foram registradas dezenas de casos de intoxicação em diferentes países.
Segundo Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), o uso do dietilenoglicol é muito raro em cervejarias. "Normalmente, as cervejarias usam álcool puro, sem nenhum tipo de conservante ou agente químico, misturado com água, numa proporção de 30%, para refrigeração dos tanques", explica.
Além de dizer que é raro o uso na indústria cervejeira, Lapolli afirma que o nível de toxicidade da substância não é alto. "Precisaria ser consumida uma quantidade muito grande para que haja o efeito visto em Minas Gerais. É preciso aprofundar a investigação é ver se as causas são mesmo essas", comenta.
Por Folha com Informações O Tempo e G1
Deixe um comentário