Comunidades tradicionais de apanhadores de flores sempre-vivas, espécie nativa da Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, estão perto de conseguir o reconhecimento como Sistema Agrícola Tradicional de Importância Mundial (Sipam).
O selo é concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de sua Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A agência lidera os esforços internacionais para erradicação da fome e da insegurança alimentar e dá especial atenção ao desenvolvimento das áreas rurais, onde vivem 70% das populações de baixa renda no mundo e que ainda passam fome.
Os grupos tradicionais preservam técnicas seculares de manejo da terra e desenvolvem em seu território uma relação sustentável com a natureza. O reconhecimento da FAO será uma valiosa conquista para as comunidades, algumas delas localizadas em Diamantina.
Um comitê científico da FAO esteve em Diamantina nos dias 28 e 29 de julho para avaliar a pertinência da candidatura ao selo, o envolvimento dos governos local, estadual e federal, da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (Codecex) que representa os apanhadores e das universidades. O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, ressaltou a importância de todas as instâncias trabalharem juntas no processo de certificação.
Para conquistar o selo, as comunidades ainda precisam vencer algumas etapas. A primeira ocorreu no ano passado, quando formalizaram sua candidatura com a entrega de um dossiê à FAO Brasil. A solenidade foi durante o I Festival dos Apanhadores e Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas, realizado em junho de 2018, em Diamantina. A candidatura recebeu o apoio de pesquisadores, acadêmicos e membros de órgãos públicos que ajudaram a construir o documento. A avaliação final acontecerá em mais um encontro, ainda este ano, em Roma, capital italiana.
O sistema
Os apanhadores de flores sempre-vivas habitam a porção meridional da Serra do Espinhaço. Além da coleta das flores, as comunidades realizam outras atividades produtivas que garantem a complementação de renda e segurança econômica e alimentar, como roças, criação de animais e coleta de produtos do agroextrativismo, a exemplo de frutos e plantas medicinais.
O grupo integra uma categoria de comunidade tradicional, certificada pela Comissão Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais (CEPCT-MG) e amparada pela Política Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais.
As características do Sistema Agrícola Tradicional dos Apanhadores de Flores Sempre-Vivas que possibilitaram a candidatura ao programa da FAO são a utilização combinada de diferentes altitudes, que vão de 600 a 1.400 metros de altitude; elevada biodiversidade; conhecimentos tradicionais sobre o uso das áreas, gerando distintos agroambientes que resultam em paisagens manejadas; abundância hídrica; reserva de biodiversidade nativa; biodiversidade agrícola; e riqueza cultural.
Por Agência Minas
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