Jesus Alecrim, de 31 anos, leva a bateria sem ajuda para ensaios e shows. Monta e desmonta o instrumento. Afina, passa o som. Segue a rotina de um músico sem dificuldades, mas difere de outros bateristas por não ter as mãos e parte das duas pernas. Com menos de dois meses de vida, ele teve os membros amputados após ter uma infecção.
Foi também em menos de dois meses que, por meio de uma campanha na internet, conseguiu reunir mais de R$ 70 mil para fazer a troca das próteses que usa nas pernas desde os 15 anos. A vaquinha virtual teve início em outubro, foi encerrada em dezembro e, desde o último final de semana, ele está usando as novas próteses. A Campanha foi amplamente divulgada nas redes sociais, e foi ao ar na edição do dia 10 de outubro de 2017 no Jornal da Folha.
Profissional da área administrativa e baterista, Jésus Marcos Pinto de Alecrim nasceu em 20 de dezembro de 1986 sem complicações. Quatro dias depois do nascimento, manchas em seu corpo preocuparam a sua família, mas nada foi diagnosticado em sua cidade, Capelinha. Ele foi levado para Belo Horizonte, onde médicos constataram que ele estava com infecção generalizada.
"Não tinha dois meses de idade quando houve a necessidade de amputação das duas mãos e das duas pernas abaixo do joelho."Mesmo assim, Alecrim conta que cresceu recebendo o mesmo tratamento dos outros quatro irmãos. "Minha infância foi tranquila. Meus pais me deixavam à vontade e não me limitavam."
Na adolescência, dois de seus irmãos montaram uma banda chamada Perímetro Urbano para tocar pop rock nacional e internacional. Só que o grupo não tinha um baterista."Comecei a ter curiosidade sobre o instrumento. Meus irmãos são autodidatas e não tinha tanta coisa na internet na época.
Comecei ouvindo fita cassete e tentando acompanhar. Foi um processo longo para eu aprender a tocar, porque sempre tentei chegar ao melhor possível, querendo tocar como profissional. Eu mesmo criei as baquetas adaptadas", relembra. Couro, tubo de linha de costura, arruelas de aço estão entre os materiais que usou para criar o suporte que encaixa nos antebraços para colocar as baquetas.
Ele passou menos de um ano no projeto com os irmãos, porém, não deixou de tocar. Agora, é baterista de uma banda chamada Seu Aurélio.
O músico conta que, por causa de sua independência, algumas pessoas não notam a falta dos membros. "Quando vou tocar, as pessoas nem sabem. Já aconteceu de eu passar o som e as pessoas verem depois que sou deficiente. Algumas nem acreditam que era eu que estava tocando."
A mobilização no site Vakinha teve início em 23 de outubro com a meta de alcançar R$ 50 mil em doações e, no dia 7 de dezembro, Alecrim encerrou a campanha - ela estava prevista para acabar em 31 de janeiro. Ele arrecadou R$ 73.407,90.
Por Estadão Conteúdo
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