A manifestação em apoio aos caminhoneiros chegou a um ponto em que fez com que a população começasse a divergir ideias. O que antes era um protesto contra a alta do diesel e dos combustíveis em geral, nesta semana se virou para outros temas.
Em Guanhães, uma faixa com a frase: “Queremos Intervenção Militar”, fez com que algumas pessoas deixassem a mobilização realizada nesta segunda-feira (28). A reportagem da Folha conversou com uma delas, que preferiu não se identificar.
“Estava achando muito bacana o apoio da população e de alguns empresários aos caminhoneiros, mas quando li “Intervenção Militar” saí na mesma hora. A Intervenção Militar no Brasil trouxe muito sofrimento para a população. Concordo que temos que lutar por uma democracia plena, igualdade, preços justos, impostos justos, saúde, educação e segurança; mas jamais por um Estado que censura, que pune, que executa e que é totalmente contra a democracia e a liberdade de expressão”, afirmou.
A fisioterapeuta Fátima Bretas em conversa com a reportagem, diz ter se assustado com o pedido dos manifestantes e se surpreendeu quando perguntou a uma pessoa que estava na manifestação se ela sabia o que era Intervenção Militar, e ela respondeu que não.
“Eu nem estava na cidade ontem (28), mas soube que os manifestantes pediam ‘Intervenção Militar’. Perguntei a uma aluna que estava na mobilização se ela sabia o que era, e ela me disse que não. Eu disse a ela que eu sabia do que se tratava, porque minha família sofreu isso na pele.”
Fátima contou que na época do Militarismo no Brasil, seu irmão Pedro Paulo Bretas fazia o 3° ano de medicina na Universidade Federal e participava ativamente dos movimentos. Ele foi preso em 1969; depois foi exilado para o Chile em 1971, onde ficou por cerca de 10 anos.
“Minha família sofreu muito neste período. Ele era lutador faixa preta de judô e karatê e ficou muito marcado com as torturas que sofreu. Em fevereiro de 1980, meu irmão pôde voltar com a anistia. O vimos quando voltou. Depois o vimos de novo em 1993, época em que ele morava na Venezuela, e depois disso nunca mais soubemos do seu paradeiro. Já procuramos de todas as formas. Para mim ainda é muito difícil falar”, compartilhou emocionada.
Com relação à manifestação ocorrida nesta segunda (28), Fátima acredita que muitas pessoas estavam lá em apoio aos caminhoneiros, sem se quer saber o que estavam pedindo e as conseqüências que uma Intervenção Militar pode trazer para o Brasil.
O que o pediam de fato os organizadores do Movimento em Guanhães?
A reportagem da Folha conversou com um dos empresários que liderou o movimento desta segunda (28) em Guanhães, Sérgio Gonçalves, e de acordo com ele o pedido de Intervenção Militar não seria, neste caso, uma pedida aos militares para tomarem o poder.
“Nós queremos o apoio do exército ao movimento dos caminhoneiros e não o militarismo. Queremos a Intervenção Militar Constitucional”, disse.
Por Folha
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