A escolha das preparações alimentares deve beneficiar não só a saúde e o paladar, mas também o meio ambiente, com base no Aproveitamento Integral dos Alimentos (AIA), uma das vertentes da chamada alimentação sustentável.
Segundo a coordenadora de nutrição da ONG Banco de Alimentos, Camila Kneip, a alimentação sustentável consiste em utilizar partes de alimentos que normalmente são desprezadas, como cascas, talos, sementes, entrecascas e folhas. O conceito do não desperdício pode – e deve – ser realizado no dia a dia por qualquer pessoa, independentemente de sua classe social ou econômica.
Isso significa eliminar preconceitos alimentares, e lembrar que muitas vezes as partes desprezadas contêm grande valor nutricional. “É comprovado cientificamente que algumas partes não convencionais possuem maior concentração de determinados nutrientes do que as normalmente consumidas. Ao jogar uma casa de laranja no lixo, por exemplo, você está jogando fora uma parte da laranja que contém sete vezes mais fibras, cinco vezes mais fósforo e 47 vezes mais cálcio do que a polpa”, explica Camila.
Além de favorecer a saúde, esse tipo de alimentação também traz benefícios sociais, ambientais e econômicos. Só para se ter uma ideia, no Brasil, 26,3 milhões de toneladas de alimentos têm o lixo como destino. Em contrapartida, 3,4 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, o que representa 1,7% da população, aponta o relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo a especialista, grande parte do desperdício de comida no país vem de uma cultura errônea de que “é sempre melhor sobrar do que faltar”. “A abundância está muito enraizada em nossa cultura. Felizmente não passamos por grandes guerras, nem temos desastres naturais. Possuímos um solo muito fértil e temos a ilusão de que nossas águas e terras jamais acabarão”, pondera.
A mudança dessa realidade passa pela formulação de novas experiências e políticas públicas, mas também cabe a cada pessoa evitar ao máximo o desperdício.
Confira dicas para aproveitar os alimentos de forma integral:
- Os talos de couve, agrião, beterraba, brócolis e salsa, entre outros, contêm fibras, ferro e vitamina C e devem ser aproveitados em patês, refogados, recheios, no feijão e na sopa.
- As folhas da cenoura são ricas em vitamina A e devem ser aproveitadas para fazer bolinhos, sopas ou picadinhos em saladas.
- A água do cozimento das batatas, beterraba e cenoura, entre outros, acaba concentrando algumas vitaminas hidrossolúveis. Aproveite-a para fazer purês, arroz e gelatinas.
- As cascas da batata e da mandioquinha podem ser assadas em forno ou fritas em óleo quente e servidas como aperitivo.
- A casca da laranja é rica em cálcio e pode ser usada caramelizada ou em pratos doces à base de leite, como arroz doce e cremes.
- Com as cascas das frutas (como goiaba, mamão e abacaxi), pode-se preparar sucos batendo-as no liquidificador. O bagaço (que sobra na peneira) desse suco pode ser aproveitado para preparar brigadeiros e bolos.
Deixe um comentário