A expressão artística e cultural que representa um povo é tão importante que tem nome: são chamados “bens culturais de natureza imaterial”. São manifestações de saberes, ofícios, modos de fazer e celebrações.
Nosso estado é grande e cheio de diversidades. Em cada cantinho, um jeito de ser especial. Reconhecidos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), são três: a comunidade dos Arturos, incluindo aí as celebrações de reinado/congado, festa de N. Senhora do Rosário e a prática da benzeção na comunidade; a festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte e o modo de fazer o queijo artesanal do Serro. A Banda da Polícia Militar de Passos tem registro municipal e, agora, pleiteia o título estadual no Iepha.
Para Françoise Jean, Diretora de Proteção e Memória do Iepha, o registro de Patrimônio Imaterial significa ter o reconhecimento formal por parte do poder público de que uma determinada manifestação cultural é fundamental para a constituição da memória, dos laços de pertencimento e da identidade de um determinado grupo ou comunidade.
Modo de fazer o queijo artesanal do Serro
A receita do queijo do Serro teria sido trazida para o Brasil no século XVIII por portugueses que vieram da região da Serra da Estrela. Em Minas, a técnica foi adaptada e a região do Serro preserva até hoje a maneira de fazer da época do Brasil colônia.
A produção artesanal possui características únicas. A massa é preparada com leite cru e recebe o “pingo” – adição de fermento láctico natural – a partir do soro drenado do próprio queijo. O resultado é um sabor característico e inconfundível. As condições climáticas e os microrganismos típicos da região determinam o sabor úmido e ácido, bastante valorizado por apreciadores mundo afora.
O médico e produtor José Monteiro cresceu em fazendas de produção artesanal de queijo. A tradição queijeira está na família há mais de 100 anos e começou com o avô de José. Para ele, a característica dos lactobacilos presentes no leite serrense combinado com o processo testado por anos de produção, fazem com que o Serro mereça destaque no mercado.
“O método industrial mata os germes saudáveis ao pasteurizar a massa e, por isso, os queijos deles não tem gosto natural. Aqui no Serro, o processo é bastante higiênico e tem como intenção um produto que conte a história de Minas Gerais e satisfaça o paladar dos consumidores”, afirma.
O modo de fazer o queijo artesanal do Serro passou a integrar o patrimônio imaterial do Estado em 2002. O registro significou uma vitória para moradores da cidade e região, pois serviu para garantir o sustento de milhares de famílias que era ameaçado por imposições sanitárias de órgãos reguladores de fora de Minas Gerais que não conheciam o processo de produção.
A defesa dos queijeiros, em parceria com o Iepha, conseguiu provar o que os mineiros já sabiam, além de seguro, o queijo do Serro “é bom demais, uai”.
Por Folha com Agência Minas
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