“Louco! Professor Pardal! Maluco!” – Por mais de dez anos o rio vermelhense Geraldo Magalhães conviveu com esses adjetivos vindos de seus conterrâneos e por aqueles que passaram a conhecer sua história e seus hábitos.

Formado em edificações pelo CEFET em Belo Horizonte, José Geraldo Magalhães, 57 anos, já fez na vida de tudo um pouco e até açougueiro já foi.  Dono de uma inquietude natural e movido por um enorme desejo de contribuir com a melhoria da qualidade de vida do planeta, especialmente de seus habitantes mais carentes, Geraldo é o responsável por um invento simples que vem causando um grande impacto social em todo o país: o recuperador de calor ou como é popularmente conhecido, o chuveiro econômico.

Com muita simpatia e com o jeito tipicamente mineiro, Magalhães recebeu a equipe da FOLHA em sua residência, no centro da pequena e acolhedora cidade de Rio Vermelho, a 73 km de Guanhães.

Entre um gole e outro de um delicioso café, preparado com metade açúcar e metade  adoçante pela esposa Cristina, Geraldo contou fatos interessantes sobre sua vida e como descobriu o chuveiro econômico.

“Você se lembra quando o governo anunciou um racionamento de energia e pediu ajuda a todos para economizar? Eu estava tomando banho e me deu aquele estalo! A água quente do chuveiro descia para o ralo e ia embora, então pensei: deve ter um jeito de aproveitar esse calor e reciclar essa energia; foi ai que comecei a pesquisar e em trinta dias, a parte complexa estava pronta. A parte simples demorou uns cinco anos”, conta entre risos.

Em parceria com pesquisadores da PUC Minas e Cemig, Magalhães desenvolveu o sistema recuperador de calor para chuveiro elétrico, que permite uma economia de até 40% no consumo de energia do chuveiro.

O sistema consiste numa plataforma com trocador de calor em espiral. O equipamento recupera o calor residual da água do banho para reaquecer a água da rede, desta forma é possível manter a água quente com um chuveiro de menor potência.

1 - Em vez de ir direto à ducha, a tubulação leva a água diretamente para uma serpentina ligada a uma placa de alumínio. Esta parte do kit é colocada sobre o ralo 

2 - A placa de alumínio é aquecida pela água quente vinda do chuveiro. Não há contato algum entre a água nova e a usada 

3 - Em cima da placa de alumínio há um tapete antiderrapante de plástico 

4 - Depois de passar pela serpentina, a água, que sai da caixa com uma temperatura média de 20 graus centígrados, chega à ducha a 30 graus. Quando instalado em banheiros já construídos, o tubo que leva a água da serpentina para a ducha fica do lado externo da parede. Se for colocado ainda durante a construção, pode ser embutido

O projeto foi testado e aprovado por instituições idôneas ligadas ao setor como a Cemig, que já distribuiu gratuitamente o kit a mais 300 mil famílias de baixa renda em Minas Gerais.

A Rewatt – empresa criada por Magalhães para a fabricação do kit, tem recebido encomendas de concessionárias de energia de todo o país. Em virtude da grande demanda - Magalhães tem toda a produção vendida até 2014 - o produto ainda não está sendo vendido no varejo, ao consumidor final.

Orgulhoso pelo sucesso de seu invento, Geraldo afirmou que a produção será ampliada para atender o mercado.

Outro invento muito interessante e simples foi mostrado à equipe da FOLHA na fazenda de Geraldo – o quarto de tirar leite. Essa idéia ele faz questão de compartilhar com os produtores rurais interessados no leite mais puro, com um percentual mínimo de bactérias e colhido com muito asseio e higiene.

Magalhães explica que o quarto de tirar leite é feito de concreto com aberturas para escoar a urina e o cocô do gado para um receptor embaixo da construção. Os dejetos dos animais vão para um local de despejo (chorume) e se transformam em adubo. O local fica permanentemente asseado e sem mau cheiro. Com apenas um empregado que trabalha meio expediente, são tirados cerca de 200 litros de leite por dia através de ordenhadeira.  As vantagens estão no asseio e higiene do local, no trabalho do empregado e principalmente na qualidade do leite.

Magalhães falou ainda sobre outras grandes novidades que com certeza revolucionarão o setor de energia alternativa, mas não entrou em detalhes porque estão em estudo. E isso com certeza, é assunto para outra oportunidade, pardalisticamente falando!

Por Paulo Américo