A situação é antiga e se agrava a cada dia. Falta de médicos, funcionários sem aumento de salário e agora, demora, e até falta de atendimento, e várias outras reclamações são constantes contra o Hospital Imaculada Conceição, instalado em Guanhães e que atende à região.
Na expectativa de encontrar uma solução para a crise estabelecida na instituição, o promotor de justiça Márcio Kakumoto se reuniu na tarde desta terça-feira (3), com o administrador do Hospital, Ricardo Pimenta, prefeitos, secretários de saúde, vereadores e outros representantes de municípios. E o promotor foi enfático ao dizer que se não for encontrada uma solução, a instituição terá as portas fechadas. “Não é o que eu quero fazer, mas desse jeito não pode ficar. Tem que encontrar uma solução, ou entrarei com uma ação e vai fechar”, declarou Kakumoto.
Entre uma discussão e outra sobre os motivos e propostas de melhorias, o promotor finalizou a discussão sinalizando uma alternativa. Segundo ele, o diretor Ricardo Pimenta, terá que redigir um ofício em nome dos prefeitos, relatando a atual situação e a necessidade do Estado fazer sua parte, por pena de “portas fechadas”. O documento será enviado à Secretaria Estadual de Saúde e a expectativa é que a resposta venha positiva, pois se for negativa, aí sim, será movida ação para o fechamento do Hospital Regional.
Mas até chegar a essa saída, o promotor ouviu os diferentes relatos dos representantes municipais e também da direção. Os problemas financeiros foram os primeiros citados pela direção do hospital, informando que o déficit mensal do HIC chega a R$ 60 mil e que somando os últimos impactos da crise, a dívida total está em R$ 3 milhões, mais os R$ 600 mil que foram pegos recentemente como empréstimo na Caixa Econômica Federal.
Mas o empréstimo parece ser a menor das preocupações, já que a administração aguarda por um depósito de R$ 360 mil provindos do ProHosp que ainda não depositou os meses de maio e junho. “Nós recebemos do ProHosp, R$ 180 mil ao mês, mas estamos com essa pendência no recebimento, porque nos anos de 2010 e 2011, batemos a meta. Porém neste ano de 2012, eles alegaram que não alcançamos produção para receber o repasse, que o volume de internação caiu. Já entramos em contato e foi prometido o depósito”, disse o diretor Ricardo Pimenta.
Segundo o promotor Kakumoto, só na última semana, três procedimentos já foram instaurados para apuração do mal e do não funcionamento do Hospital. “Tomei conhecimento de uma senhora que ficou lá por três dias sem atendimento, com a pele já necrosando. E quando comecei a instaurar os procedimentos, vi a falta de médicos que está no hospital e ainda fui surpreendido com o déficit mensal de R$ 60 mil”.
E o diretor declarou que o problema mais grave que consegue identificar hoje, é a contratação de novos médicos. “Os municípios não querem passar pelo que nós estamos passando. Nós fazemos a proposta aos médicos, oferecemos ótimos salários, e os seus municípios cobrem a oferta, aí eles não vêm. Já fechamos com uma clínica de ortopedia da cidade, mas ainda precisamos de imediato, contratar mais um ortopedista e oito clínicos”.
Segundo Ricardo, o quadro de plantonistas é fechado a cada semana, devido essa defasagem de profissionais. “Já fechamos toda essa semana até a segunda-feira/dia, mas para a noite, a gente já não tem. Agora vamos correr atrás pra fechar a semana que vem. Com isso, estamos contando com a ajuda de outros municípios, como Sabinópolis que recebeu alguns pacientes graves pra nós”.
Foi sugerido durante a reunião, que a prefeitura de Guanhães deixe uma ambulância permanente no hospital para os momentos de emergência e transferência de pacientes já que a falta de médicos está constante, mas o Secretário Municipal de Saúde, Moacir Rosa, disse que isso pode ser perigoso, não explicando quais os perigos de uma ambulância à disposição no Hospital Regional.
Sobre o pagamento dos médicos, Ricardo Pimenta garantiu, que estão sendo feitos em dia. “Eu não toco no dinheiro dos médicos”, disse. Quanto às cirurgias, o secretário opinou quando a pergunta foi: “se eles estão recebendo, por que não estão operando?”. E resposta: “Os médicos não estão operando por preguiça”.
O que também levantou polêmica durante a reunião foi a informação do diretor de que um ou dois médicos estariam chantageando os novos contratados, impedindo que cheguem a Guanhães. “Eu não trago mais médico no hospital, se eu tiver que contratar, vai ser sem ele conhecer a instituição”. Ao declarar isso, os representantes questionaram porque esses não são demitidos e a resposta foi a esperada: “se eu demito, o promotor vai mover ação é contra mim, porque aí sim, pacientes vão morrer por falta de médicos. Mas o que nos salva é que ainda temos profissionais corajosos, que entram e cumprem seus plantões”.
Greve
Em meio a essa situação, os enfermeiros estão reivindicando por aumento de salário na margem dos 70%. Mas durante a reunião, o diretor deixou claro: “Se entrar dinheiro novo, vamos dar o aumento de acordo com o salário de mercado. Mas se não entrar, não tem jeito. Mas não vamos dar os 70%, quem recebe hoje R$ 637, por exemplo, passará a R$ 793”, informou.
Por Samira Cunha
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