IDENTIDADE.
Meus olhos vagueiam em meio à multidão.
Solidão...
Luta renhída...
Realidade bandida...
Atroz verdade.
Minha real nacionalidade?
Sou nascida na senzala.
Tenho marcas de açoite.
Sou dos Palmares.
Mais uma na multidão.
Sou da noite companheira.
Minha história é verdadeira.
Meu sangue foi derramado
Em terras brasileiras.
São desencantos e desencontros.
Diferentes sensações.
Vivo perdida em meio à multidões.
Minha nacionalidade?
Nenhuma.
A mim não foi permitido
revelar minha identidade.
Sou dos porões de navios,
Da casa grande a solução.
Outrora fui ama de leite.
E para o patrão,diversão,deleite.
Sou contada como história...
Sou lenda.
Meus olhos refletem agonia.
Tudo e todos são iguais.
Minha nacionalidade?
Nenhuma.
Sou atemporal.
Cortam meu presente.
Apagam meu passado.
Impedem meu futuro.
Minhas palavras não conseguem explicar
a complexidade de meus sentimentos.
Continuam delegando-me noites senzalescas.
A sociedade não se emenda.
Deixa claro...
Negro não pode dormir em
camas de renda.
Para o futuro?
Apenas esquecimento.
Um lapso na memória.
Sou uma canoa vazia,
Perdida no mar da discriminação.
Sou mulher sem rosto.
Mais uma na multidão.
Pérola Rocha.
20/11/2015.
Sobre a autora: a guanhanense Márcia Rocha, hoje Pérola Rocha, fundou na década de 1990 o Movimento Cultural Negro Afro Guananãs na cidade e atualmente ela continua com seu movimento nos EUA, onde reside atualmente.
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