Minas Gerais está entre os nove estados que suspendeu o atendimento a todas as operadoras. Em abril deste ano, os médicos fizeram o primeiro boicote às operadoras, quando interromperam por um dia o atendimento a clientes de todos os planos. Desta vez, os planos que não negociaram ou não apresentaram propostas suficientes para atender às reivindicações da categoria são o alvo do protesto.
Reivindicação
Os médicos querem o aumento imediato dos honorários, reajuste fixo anual da remuneração e o fim da interferência das empresas em sua autonomia. As associações médicas defendem o valor de R$ 60 por consulta. De acordo com elas, os planos pagam, em média, R$ 40. Segundo a categoria, as mensalidades dos planos foram reajustadas em 150% nos últimos anos. No entanto, as operadoras destinam menos de 20% da arrecadação para a remuneração dos profissionais.
A indignação pelo valor pago pelo serviço prestado é confirmado pela ginecologista Ivonilde Vieira de Castro. A médica conta que um determinado plano paga o valor de R$ 55 por consulta, mas após o desconto de 27% do imposto de renda, o que recebem é R$ 40,15. Além desse, há também outros que pagam apenas R$30, sem considerar o desconto e os meses de atraso. “Eles pagam muito pouco, então o médico precisa atender um número grande pacientes para conseguir atingir uma média. Eu prezo pelo meu paciente, mas essa necessidade de quantidade, se não for bem administrada, pode afetar o atendimento”, conta a especialista.
Outra informação revelada pela médica é que alguns planos de saúde chegam a oferecer o valor da consulta de acordo com o número de exames solicitados. “Conheço casos de planos que pagam melhor pela consulta quando o médico pede menos exames, pois assim diminuem as despesas. Isso é um absurdo, pois às vezes o paciente não tem sintoma de nada, mas ao efetuar exames de rotina, descobrimos alguma doença e às vezes grave. O paciente merece essa atenção”, desabafa.
Os profissionais cobram ainda posicionamento e articulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular o setor, para solucionar as divergências entre a categoria e os planos. “O que está colocado em jogo é a assistência a 46 milhões de usuários. O governo tem responsabilidade. Estamos chamando a ANS para a responsabilidade”, disse Aloísio Tibiriça, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Diante do protesto dos médicos, a Federação Nacional da Saúde Suplementar (Fenasaúde), que representa as 15 maiores operadoras do país, informou, em nota, ter formalizado à ANS uma nova proposta de remuneração. De acordo com a federação, os serviços ofertados pelos planos serão organizados em grupos, conforme a complexidade. Em cada grupo, será definido um valor que valerá para todos procedimentos, nivelado pelo mais alto. Ainda segundo as operadoras, o reajuste das consultas médicas, nos últimos dez anos, ficou acima da variação da inflação no período, que foi de aproximadamente 56%.
Entretanto, as entidades médicas dizem desconhecer a proposta da Fenasaúde. “Essa proposta facilita a conversa. Não tem relação com valores [honorários]”, explicou Jorge Curi, diretor da Associação Médica Brasileira (AMB).
A produção do Jornal da Folha tentou contato com outros médicos, mas não foi possível entrevista devido aos horários de atendimentos. Mas pela apuração, foi possível perceber que a maioria aderiu ao movimento. Apenas uma informou que não estava ciente do assunto.
Por Samira Cunha
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