A entidade está vinculada a um esquema criminoso e seus dirigentes estão sendo acusados de desviar cerca de R$ 1 milhão
Cerca de R$ 1 milhão eram desviados por mês pelos administradores da Associação de Assistência às Pessoas com Câncer, de Ipatinga (Aapec). É o que aponta o balanço das ações realizadas nesta primeira fase da Operação Carcinoma, deflagrada na manhã dessa terça-feira (9) em Ipatinga.
Segundo a apuração do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o casal que gerenciava a instituição morava em uma casa de propriedade da Aapec, localizada em um bairro nobre da cidade de Ipatinga. No imóvel foram apreendidos, oito carros, três motos, notas fiscais e mais de R$ 38 mil.
A principal fonte de arrecadação de dinheiro da Associação eram doações solicitadas pela equipe de telemarketing. O dinheiro era recolhido por motoboys em várias cidades do estado, entre elas, Guanhães.
A notícia deixou muitos moradores indignados, já que inúmeras pessoas do município contribuíam assiduamente com a Associação. Como é o caso da teóloga, Bárbara Garcias, que doava R$ 30,00 todo mês. “Era contribuinte há mais de um ano. Além dessa quantia, às vezes eu doava até mais, como em campanhas relâmpagos para crianças que, segundo eles, precisavam de medicamentos mais caros. Quando eu falava que não podia doar, me pressionavam, dizendo que a vida da criança estava dependendo de minhas doações”, compartilhou.
Bárbara, que ficou muito chateada com a notícia, disse que sábado (13) seria o dia de o motoqueiro passar recolhendo o dinheiro, e que ainda neste mês, ela recebeu uma ligação do instituto, pedindo que aumentasse o valor da doação.
Já professora pós-graduada, Ana Gabriela Generoso, contribuiu por mais de cinco anos com a entidade. “As pessoas vinham de longe, e era justamente isso que me dava mais força contribuir”, afirmou a profissional que ficou surpresa quando soube do esquema criminoso hoje pela manhã, através da reportagem da Folha.
A guanhanense Nágila Furbino também chegou a contribuir algumas vezes, e até foi convidada a conhecer a Associação em Ipatinga, contudo, ela acabou desistindo da ajuda. “Eu parei porque acho que se tenho que ajudar alguma entidade que seja na minha cidade e não fora. Além disso, a gente não sabe ao certo para onde vai o dinheiro”, salientou.
A manicure Lillian Souza e sua família também foram vítimas do esquema. “Eu e minha mãe contribuímos por mais de dois anos com a AAPEC. Minha mãe faleceu e minha irmã continuou ajudando no lugar dela. Fiquei muito triste, porque neste tempo poderíamos ter ajudado entidades que realmente precisam”, lamentou.
A reportagem da Folha FM também conversou com a Presidente da Associação Ato de Amor de Guanhães, Eliana Nunes, que enfrenta pela terceira vez a luta contra o câncer. Para ela, que também contribuía com a Associação de Ipatinga por mais de três anos, o sentimento é de revolta: “fico imaginando como tiveram tamanha coragem. Tanta gente precisando de verdade, e eles usando isso para ter luxo. Esse tipo de coisa para mim não tem perdão. Só quem tem essa doença sabe o que é enfrentá-la”, ressaltou.
Sobre a Operação
A operação Carcinoma foi deflagrada na manhã dessa terça-feira (9) pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), composto pelas Polícias Civil, Militar e Ministério Público Estadual. As ações de investigações começaram há seis meses, para apurar esquema criminoso instalado na administração da Aapec.
Oito pessoas já foram presas durante a ação, nas cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso e Viçosa. Em Ipatinga foram presos a fundadora da AAPEC, Zilma Ferreira da Silva, 58, que no papel é a presidente, o filho dela, Eduardo Silva de Souza, 33 anos, que de fato dirigia a entidade e a mulher dele, Dafny Sá Domingos, 28 anos, que também era administradora. Outras cinco pessoas também foram detidas.
Segundo as investigações, o grupo de administradores teria enriquecido de forma ilícita, mediante apropriação de recursos públicos, e de recursos arrecadados por meio de doações, da instituição. Além das prisões, 22 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.
Além da Aapec de Ipatinga, também estão sendo investigadas 17 empresas ligadas à associação nas cidades de Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Belo Horizonte, Governador Valadares e Viçosa, onde estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão.
Por Folha com Agências de Notícias
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