“Joaquim”, novo longa de Marcelo Gomes, gravado na região de Diamantina, foi selecionado para a competição principal do Festival de Berlim, uma das mais prestigiosas mostras de cinema, que será realizada de 9 a 19 de fevereiro.
Ao retratar a vida de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), o diretor buscava não só mergulhar na figura do inconfidente, mas também nas raízes das nossas questões sociais. “A gente reflete sobre o Brasil colonial, que de uma forma ou de outra é a origem do nosso Brasil de hoje, e como essas fraturas sociais, decorrentes de um processo de colonização cruel e rude, provocaram fissuras até hoje”, diz Gomes.
É o primeiro brasileiro em três anos a chegar à competição – o último foi “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz, em 2014. “E é um festival mais politizado e aberto ao público, uma arena maravilhosa para vermos a reação dos espectadores. Um bom momento para refletirmos sobre o nosso passado”, diz o cineasta.
Gomes criou uma ficção em torno da figura histórica, cujos feitos são bastante conhecidos, mas de cuja vida particular pouco se tem registro. “Eu mesmo quando era pequeno confundia Tiradentes com Jesus Cristo”, lembra rindo o diretor. “Mas o que mais me dava curiosidade era investigar como é que esse alferes da guarda real do Império Português se transforma em alguém que se rebela contra o governo. Como foi esse processo de consciência política a partir de uma ética que existia no século XVIII”, afirma.
O personagem-título coube ao paulista Júlio Machado, que entrou no projeto já em andamento – o papel seria de João Miguel (com quem Gomes trabalhou em “Cinema, Aspirinas e Urubus”), mas, por conflitos de agenda, o ator precisou cancelar a participação no filme.
Gomes buscou reproduzir, no ambiente, o cotidiano de Tiradentes. Filmou seu longa na região de Diamantina (MG). “As condições no passado eram difíceis, e a gente tentou construir um passado real, difícil”, diz.
Além de Machado, o elenco conta com atores portugueses, intérpretes amadores que moram na região e integrantes do Grupo Galpão, como Eduardo Moreira e Chico Pelúcio. “Esse caldo cultural de atores de origens diferentes parecia muito com o caldo social do Brasil no século XVIII”, afirma o cineasta.
Ainda não há uma data certa, mas Gomes pretende lançar “Joaquim” no circuito em 21 de abril, dia de Tiradentes.
Por O Tempo/Edição Folha
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