A mãe que aqui vamos chamar de Sônia, nome fictício, viveu nesta semana, um dos momentos mais esperados, o de internar o filho numa clínica de recuperação em dependência química. Mesmo sendo um drama difícil de enfrentar, Sônia encontra motivos para comemorar, pois tem a esperança de receber de volta um filho restaurado. “Estou com Deus e acredito que vai dar certo. Ele não vai voltar do jeito que foi, vai voltar liberto”, conta a mãe esperançosa.
De Guanhães para Governador Valadares. A clínica onde Rafael, nome também fictício, vai ficar é a 145 quilômetros da cidade onde vive com a família e onde também conheceu o mundo das drogas. Hoje com 20 anos, foi aos 12 que abriu as portas para o vício.
A mãe conta que começou a desconfiar quando encontrou dentro de um móvel da casa, um saco plástico vazio, mas com um cheiro atípico. “Logo que senti aquele cheiro, comecei a desconfiar e mostrei para o meu filho mais velho. E ele confirmou que era mesmo cheiro de maconha”, conta Sônia.
E foi com a maconha o início de tudo. “Acredito que foram os colegas que ofereceram, porque não temos outro caso na família. Ele deve ter começado a experimentar por curiosidade, mas desconfio que não começou seu envolvimento através do consumo, mas sim vendendo”, conta a mãe que apesar de não saber muito, acredita que o filho foi usado para vender a droga. “Com isso, parou de vender e começou a usar. Mas ele não conta”.
Hoje, Rafael tenta se livrar do crack e com tratamentos específicos na clínica de tratamento para dependentes químicos, está em busca de uma saída.
Sintomas
Sônia começou a desconfiar cada vez mais que o filho estava envolvido com as drogas por causa do comportamento. “Ele estava dando muito trabalho na escola, parou de estudar na sexta série. Duas vezes por semana eu era chamada pela professora por causa de coisa errada que ele fazia”, conta a mãe que tem outros três filhos.
Depois da escola, as complicações foram para a área profissional. “Ele parou de estudar, então foi trabalhar muito cedo, mas nunca vi o dinheiro dele. Pediu demissão da empresa onde ficou muito tempo e ganhou um bom dinheiro, mas que nunca apareceu. Foi aí que comecei a falar com ele para se internar”.
Mas até dizer sim à mãe, Rafael relutou. Sônia chegou a ver casa quase incendiada pelo filho sob efeito das drogas. “Teve um dia que ele chegou, eu não estava, e foi fazer almoço. Enquanto colocou batata pra fritar, deixou a gordura queimando. Quando entrei, a casa infestada. Foi Deus que não deixou pegar fogo”. E foi nesse dia que Rafael percebeu a necessidade de ir para uma clínica e aceitou a proposta da mãe.
Obstáculos
Foram oito anos de luta e de repente Sônia iniciou os trâmites para conseguir uma vaga para o filho. “Na assistência social do município preenchi todos os documentos e levei os exames para ele fazer”. E foi aí que surgiram os novos obstáculos. Por várias vezes, Rafael não compareceu para os exames e consultas, por causa dos efeitos da droga.
Com tudo concluído, Sônia encontrou outros obstáculos, o de chegar até a clínica com um acompanhante e o filho. “Eu fiquei dias atrás de ajuda da prefeitura e não consegui nada. Primeiro o carro estava estragado, depois me dariam a passagem, mas não chegaria lá no horário estipulado para internação e eu só teria ônibus pra voltar no dia seguinte. Não tinha nem aonde dormir”, conta a mãe indignada.
Sem recursos próprios, a família conseguiu com um parente, empréstimo do dinheiro que daria para pagar as passagens numa empresa que atende nos horários necessários. “Lá na clínica tinham três carros de Santa Catarina e aqui em Guanhães que é mais perto, a prefeitura não resolveu meu problema. Fui até no Fórum, procurei vereadores e só recebi não como resposta. Fiquei desesperada, eu não podia deixar meu filho perder essa oportunidade”, conta a mãe indignada com a falta de amparo.
Coincidentemente, nesta mesma semana, acontece a Semana Nacional de Prevenção às Drogas e mesmo em meio a tantas discussões sobre como ajudar dependentes químicos, ainda é possível conhecer a dura experiência de quem teve as portas fechadas.
Por Samira Cunha
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