O grupo Respeito Inclui a Cor, que já foi premiado em nível nacional, continua seus estudos sobre os efeitos do racismo na saúde mental da população. O grupo que participa do projeto segue debatendo e promovendo a conscientização sobre as questões raciais e o impacto do preconceito nas pessoas, especialmente nas negras.
No encontro realizado na segunda-feira, 17 de fevereiro, na sede do CAPS Guanhães, os participantes puderam vivenciar as experiências do convidado Matozinhos “Toti”. Durante a dinâmica em grupo, dois temas foram destacados: a criação do mito da "Democracia Racial" e a frase "o negro só é livre quando morre", mencionada por filósofos e ativistas como Djalma Ribeiro e Carolina de Jesus.
De acordo com a psicóloga e psicanalista Liliane Maria Alberto da Silva, do CAPS Guanhães, dados do IBGE indicam que mais de 60% da população de Guanhães se declarou parda ou negra no último censo. "As histórias de racismo atravessam o sofrimento de nossa população desde a origem. No passado e até hoje, as pessoas negras não são reconhecidas por sua história e pelas contribuições na construção desta terra. Identificamos nos atendimentos individuais e coletivos no CAPS, em que a maioria dos pacientes são negros, o sofrimento relacionado à experiência de racismo. Diante dessa situação, convocamos toda a rede de atores sociais, do poder público e da sociedade civil para elaborar uma resposta institucional e formal, com o objetivo de construir uma ação afirmativa que envolva a saúde mental", frisou Liliane.
O grande momento da roda de conversa foi a história de resiliência do quilombola e querido Matozinhos Sebastião Avelar (Toti), ex-morador do povoado de Barreira. Toti, servidor público municipal há mais de 20 anos, atua em diversos segmentos sociais do município, sendo conselheiro nas áreas da saúde e cultura. Ele também representou o município nas etapas municipal, estadual e federal de cultura, participando da 4ª Conferência Nacional de Cultura (4ª CNC), realizada pelo Ministério da Cultura (Minc) em Brasília, com o tema central "Democracia e Direito à Cultura".
Outro destaque foi a participação de sua filha Tatiane Aparecida Silva de Avelar, recém-aprovada pela UFMG no curso de Medicina. Para Tatiane, os desafios enfrentados em razão das condições sociais nunca desviaram seu foco na educação, que ela acredita ser a chave para a realização de seus sonhos. “Quando estudava exaustivamente e trabalhava, sempre pensava no esforço que meus pais faziam para meu sucesso. A educação mudou toda a minha história", desabafou Tatiane.
Este encontro no CAPS Guanhães se mostrou fundamental para refletir sobre a luta antirracista e os desafios enfrentados pela população negra, além de reforçar a importância da educação e do apoio institucional na construção de um futuro mais igualitário e livre de preconceitos.