Alta cobertura vacinal garante saúde comunitária, dizem especialistas
A introdução de componentes que simulam um agente infeccioso capaz de
enganar o corpo e proteger de vírus mortais. Esse é o mecanismo que
explica o funcionamento das vacinas, descoberta que já soma dois séculos e
que mudou a história da humanidade.
Mais do que uma proteção individual, os imunizantes reforçam o senso de
comunidade e responsabilidade coletiva, apontam especialistas. Nesta
quinta-feira (9) é celebrado o Dia Nacional da Imunização.
“A partir das vacinas, não precisamos mais ficar doentes para que o nosso
sistema imunológico aprenda a combater algo”, aponta o virologista e
imunologista Rômulo Neris. Ele integra a Equipe Halo, iniciativa, aprovada
pela Organização das Nações Unidas, que reúne cientistas e profissionais
da saúde de todo o mundo que atuam no combate à pandemia. Neris
escreveu uma categoria de moléculas aptas a destruir partículas de doenças
como zika, chikungunya, dengue, mayaro e febre amarela.
“Geralmente, somos expostos aos agentes causadores dessas doenças. Mas
o grande problema é que, na maioria dos casos, isso envolve ficar doente
uma primeira vez. Isso não é um cenário ideal, por exemplo, quando
estamos lidando com doenças que tem uma letalidade muito elevada ou
potencial de causar sequelas ou algum quadro muito grave. É aí que as
vacinas entraram como diferencial na história da humanidade”, disse Neris.
Mariana de Souza Araújo, coordenadora do Programa Municipal de
Imunizações (PMI), da prefeitura de São Paulo, destaca que a vacina é uma
questão de saúde pública e, por isso, depende da cooperação de todos.
“Quanto mais pessoas vacinadas, mais protegidos os indivíduos estarão.
Por isso falamos de cobertura vacinal”, destaca.
Vacinação contra a covid-19
Neris lembra que nenhuma vacina protege 100% contra um vírus, nesse
sentido, a cobertura vacinal é que garante a proteção. Ele aponta que a
vacinação contra a covid-19 se mostrou bastante eficaz no controle das
mortes, mas o aumento recente dos casos reforça que serviços de
vigilância, de monitoramento e outras práticas são necessárias para impedir
a disseminação do vírus. “A vacinação precisa ser aliada a outras
estratégias. Acho que esse é o ponto central”, alertou.
O virologista recorda que ao longo dos últimos meses houve um
relaxamento das medidas de proteção, como uso obrigatório de máscara e
controle de aglomeração. “Neste cenário, onde há uma variante que se
espalha mais rápido do que o vírus original, lugares do planeta onde não há
cobertura vacinal tão alta e o vírus ainda continua circulando, temos a
propensão de gerar cenários nos quais podemos ter essas reversões, esses
aumentos de caso.”
Diante deste quadro, ele acredita que informação e vacinação são a
resposta. “A informação necessária para aumentar a confiança da
população e a adesão das pessoas que ainda não completaram o esquema
vacinal, em conjunto reforçar outras medidas de proteção para que
possamos consolidar, já que conseguimos controlar o número de casos no
país”, avaliou.
Segurança
Neris lamenta que grupos contrários à vacinação se utilizem da
desinformação para gerar dúvidas sobre a segurança dos imunizantes.
“Esses movimentos basicamente tentam se valer de uma interpretação
inadequada de dados, dando uma linguagem técnica, uma roupagem
científica para algo que é uma informação falsa”, avalia.
Mariana lembra que todas as vacinas utilizadas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) são aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) após pesquisas com rigor científico.
A coordenadora destaca que “o Brasil é referência em imunização. O nosso
calendário é um dos mais completos do mundo”. “Conseguimos erradicar a
poliomielite e a varíola. Agora temos casos de outra variante, mas somente
com as vacinas a gente consegue impedir que doenças que são
imunopreveníveis voltem.”
Ela pede que a população acompanhe o calendário e a disponibilização
contínua das doses para diversas doenças. “Se a pessoa tem dúvida se ela
tem direito ou não, se ela está elegível dentro da faixa etária dela, procure
qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS), leve o seu cartão para verificar.”