Pesquisa desenvolvida pela Funed, em parceria com a PUC Minas, testa mistura com plantas comuns, como orégano, cravo e alecrim, que eliminou 100% de larvas em água parada. Outra novidade é um kit, feito com apoio da UFMG, que detecta o vírus da dengue em 20 minutos.
Uma incoerência histórica sempre incomodou a pesquisadora da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Alzira Batista Cecílio. Como é que em 1955 Oswaldo Cruz conseguiu eliminar o Aedes aegypti do Rio de Janeiro e hoje, com toda a tecnologia disponível, o vetor de doenças como dengue e febre chikungunya continua por aí? É notória a adaptação do mosquito ao nosso meio, mas a falta de programas mais estruturados, acessíveis e assertivos no combate aos criadouros e informação da população também contribuem para sua resistência.
Pensando em solucionar parte dessa equação, a pesquisadora conduz pelo menos dois projetos que têm como objetivo simplificar o combate e o diagnóstico da dengue.
Em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Alzira trabalha no desenvolvimento de óleos essenciais, feitos a partir de plantas medicinais, com o intuito de usá-los como larvicida. Já com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entra em fase final um kit capaz de detectar a contaminação pelo vírus em 20 minutos.
Feito a partir de plantas comuns, como orégano, cravo e alecrim, os primeiros testes com o óleo já demonstram 100% de eficácia na eliminação total das larvas em água parada em um prazo de até 24 horas. A vantagem desse método é que o próprio cidadão poderá se responsabilizar na prevenção em casa. “O pó utilizado hoje no combate ao Aedes aegypti só pode ser ministrado pelo agente de saúde porque é químico”, explica a pesquisadora.
No caso do óleo, além de ser natural, ele é rapidamente absorvido e não contamina o meio ambiente. Segundo Alzira Cecílio, inúmeras combinações foram testadas. A fase atual da pesquisa se concentra na confirmação dos primeiros resultados, assim como a seleção de três óleos mais eficazes, de um grupo de 10.
A previsão é de que até o final do ano já exista o produto a ser patenteado. A ideia que sempre norteou o projeto foi trabalhar com algo que pudesse estar ao alcance de qualquer cidadão. Por isso a escolha por tais plantas medicinais, atóxicas e até cheirosas.
Rapidez no diagnóstico
Paralelamente aos estudos sobre os óleos essenciais, Alzira Cecílio, em parceria com a também pesquisadora Erna Kroon, finaliza os estudos para o desenvolvimento do primeiro kit rápido de diagnóstico da dengue.
É um trabalho que vem sendo feito ao longo dos últimos quatro anos. Segundo a pesquisadora, o protótipo laboratorial para testes ficará pronto até o final do ano.
“Agora estamos marcando a molécula para aplicar o teste em uma soroteca que temos. Depois vamos repassar para os laboratórios da rede pública”, afirma. O exame surgiu a partir de uma demanda da Secretaria de Estado da Saúde de Minas, preocupada em nacionalizar o método de identificação dos pacientes infectados com o vírus, assim como o seu barateamento.
Testes importados
Os laboratórios costumam diagnosticar a dengue pelo teste Elisa (do inglês Enzyme Linked ImmunoSorbent Assay). São utilizadas amostras de sangue e demora no mínimo três dias para confirmar ou não a infecção pelo vírus. Outro tipo de teste adota a técnica do PCR, que investiga a presença do vírus por meio do genoma.
É mais rápida, porém mais cara, o que a inviabiliza para testes em escala, como ocorre com as análises para diagnóstico da dengue. Também existem outros testes rápidos similares ao que está sendo desenvolvido na Fundação Ezequiel Dias, porém eles são importados, o que representa um alto custo para sua utilização em larga escala no Brasil.
Por Estado de Minas
Foto: Estado de Minas