Especial Dia Internacional da Mulher*
Lívia:da infância a adolescência em busca da cura
Lívia descobriu que tinha câncer aos 4 anos, aos 14 recebeu alta e hoje, aos 18 anos, estuda arquitetura.
Lívia descobriu que tinha Leucemia LLA (Linfoblástica Aguda) aos quatro anos de idade.
Dos sintomas da doença, Lívia começou a apresentar dores nossos ossos e manchas roxas que não sumiam, além de fraqueza e mal estar. “São dores de crescimento dizia o pediatra”. Quando descoberta a doença, uma médica de Coronel Fabriciano disse: “Mãe, você tem 24 horas para conseguir internar sua filha num hospital de Belo Horizonte, ela corre grande risco de morte”.
Foi então que o maior desafio começou: internação num primeiro hospital, diagnóstico confirmado, muitas e muitas dores e início de um longo tratamento.
Veio a transferência para um segundo hospital onde ficou até o término das internações e onde vieram também o isolamento, agulhas e agulhas, inúmeras punções, passagens pelo bloco cirúrgico e anestesia geral, momentos críticos, equipe de dor, cateter, lágrimas, sofrimento, enfermeiras, médicos, anjos, amigos, familiares, força, fé, coragem, vontade, superação. Muitas e muitas mensagens e orações. Até de pessoas que não a conheciam, uma imensa rede de boas energias eram direcionadas a ela.
Após dois meses e meio, pôde sair do Hospital e do isolamento. De volta ao lar? Ainda não. Por um tempo precisou morar em Belo Horizonte, para ficar bem pertinho dos médicos que a cuidavam e do hospital, para onde voltou em muitos momentos, mas agora só de passagem.
A máscara passou a ser sua fiel escudeira.Os muitos medicamentos que compunham a quimioterapia seus amigos fiéis. A família e amigos, seu chão.
Enfrentou então um dos piores momentos, a queda do cabelo. A criança linda de longos cabelos, que já os havia cortado bem curtinho, ainda no hospital, precisou enfrentar a máquina e raspá-los.
Junto com a queda dos cabelos, caíram também muitas lágrimas. Alguns familiares, no mesmo momento, também cortaram seus cabelos e outros até mesmo rasparam. Lívia se sentiu um pouco menos diferente.
Finalmente, ela pode voltar para casa. Mas ainda não para a escola. Os estudos só voltaram a fazer parte de sua vida quando se mudou, com sua mãe, para uma pequena cidade, localizada próxima ao Vale do Aço, em Marliéria, onde foram morar com seus avós.
Por recomendação médica, a mocinha ainda não poderia estudar em numa cidade maior, além de não poder correr, andar de bicicleta, cair, entre outras estripulias de criança.
Foi então que as consultas, punções e exames de sangue começaram a ficar mais escassos. A quimioterapia a acompanhou por longos dois anos e meio, diariamente, e em algumas momentos precisou retornar ao hospital para novos procedimentos. Mas, dia após dia, conseguia superar mais um degrau daquela subida tão árdua.
Lívia se mudou pra Timóteo, e na nova escola sofreu bulling ao ser chamada de “maria homem”, de “menino” e quando alguns coleguinhas não se aproximavam porque era “diferente”. Mas, ao ser transferida para uma segunda instituição de ensino, foi recebida por anjos. Um alívio para Lívia e seus familiares.
Cada obstáculo superado uma festa, uma grande vitória. Mas a ameaça de uma recaída não deixava de rondar a família que, a qualquer febrinha, tinha que levá-la imediatamente para o hospital. Após dois anos e meio de quimioterapia, as consultas e exames se espaçaram e passaram a acontecer mensalmente.
A grande sombra foi se dissipando e a fé crescendo e tomando conta daquele espaço.
Lívia continuou os estudos e, finalmente, retomou as rédeas de sua vida. As dores não existiam mais. Os exames periódicos deixaram de ser um peso e o sentimento da superação tomava conta de sua vida.
Aos 14 anos, durante uma consulta de rotina, Lívia recebeu a melhor notícia de sua vida: “Você está recebendo alta!"
Foram 10 anos de muita luta, muita coragem e superação de uma criança que aos quatro anos recebeu uma sentença de morte e que, com muitas fé e esperança em seu coração, aos 14 anos conseguiu se libertar.
Hoje aos 18 anos Lívia, uma moça linda, inteligente, amável, que leva uma vida perfeitamente normal, entrou para a faculdade e cursa o primeiro período de arquitetura.
“Só tenho a agradecer a Deus, a minha Mãe que sempre esteve do meu lado, ao meu pai, às minhas avós e avôs, que não mediram esforços para me oferecer carinho e conforto, meus tios e familiares, além de todos que rezaram por mim e me enviaram anjos e imagens de “Nossa Senhora”, muitas pessoas que nem conheço e que ainda as tenho em meu quarto.
Agradeço, com grande carinho e gratidão, ao Dr, Gilberto Ramos que sempre me cuidou de maneira extraordinária e muito competente, ao Dr. Quintão que sempre esteve do meu lado, aos demais médicos que também cuidaram de mim, as enfermeiras da Clínica que, por dez anos, acompanharam minha vida de bem pertinho. Deus me ofereceu uma nova vida e é com meu agradecimento que me agarro a ela”, disse Lívia.
E acrescentou, “Quando ainda no período de isolamento, chegava na janela do meu quarto no hospital e via meus familiares com cartazes e toda a alegria do mundo acenando pra mim, ainda com quatro anos, sentia uma enorme felicidade e amor no coração. A solidariedade cura”.
“Hoje não consigo mais me lembrar das dores, mas a cicatriz que carrego no peito diariamente me faz recordar que eu e meus familiares somos vencedores e que uma nova chance me foi oferecida por Deus e que não posso jamais decepcioná-lo”, finalizou.
Lívia Hubner Andrade Ferreira Andrade Alvim tem 18 anos e mora em Timóteo.
Por Folha
Fotos: Aquivo pessoal